'Empresas querem fazer negócios, não ficar presas em disputas', afirma chefe do Viac
O Viac recebe apenas disputas entre empresas de países diferentes, ou seja, não há arbitragens entre partes austríacas. Em entrevista à revista eletrônica Consultor Jurídico, Niamh explica que as empresas da Áustria tradicionalmente levam seus conflitos nacionais para o Judiciário.
Considerado um país neutro para as disputas entre Europa Ocidental e Oriental durante a Guerra Fria, a Áustria é hoje um "foro favorável à arbitragem". A secretária-geral do Viac explica que os tribunais nacionais dão bastante força à arbitragem. No máximo cinco casos de arbitragem chegam à Suprema Corte austríaca por ano. Lá, não se analisa o mérito — apenas questões procedimentais. Outras vantagens da arbitragem internacional no Viac são a autonomia das partes, a confidencialidade (caso as partes queiram) e a exequibilidade da sentença arbitral em diversos países. Segundo Niamh, em vez de ir até seus tribunais nacionais, as partes querem ter maior flexibilidade para decidir como suas disputas serão conduzidas. "O que as empresas realmente querem é fazer negócios. Elas não querem ficar presas em disputas. A arbitragem é a forma perfeita de lhes proporcionar uma solução rápida e eficiente para suas disputas, de modo que elas possam focar nos seus objetivos", assinala.Leia a seguir a entrevista:
ConJur — Quantas arbitragens o Viac faz por ano?
Niamh Leinwather — No momento nós temos cerca de 75 arbitragens. Todas são internacionais, ou seja, as partes são de países diferentes — não há arbitragens entre partes austríacas.
ConJur — Isso não é pouco?
Niamh Leinwather — O Viac tem apenas 50 anos. Ainda há muito crescimento e desenvolvimento pela frente. A Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional, por exemplo, tem 100 anos.
ConJur — Como está sendo o crescimento da arbitragem no Viac?
Niamh Leinwather — O Viac foi fundado em 1975, em meio à Guerra Fria. Como a Áustria fica entre a Europa Ocidental e Oriental, os demais países a enxergavam como um local neutro para suas disputas. A instituição evoluiu a partir disso. As partes não querem ir até seus tribunais nacionais; elas querem ter mais flexibilidade e autonomia para decidir como “costurar” suas disputas, dependendo do tipo de conflito.
ConJur — Os procedimentos arbitrais do Viac são contestados com frequência no Judiciário?
Niamh Leinwather — A Áustria é um foro favorável à arbitragem. Os tribunais austríacos dão bastante força à arbitragem. A Suprema Corte do país possui uma comissão responsável por decidir sobre arbitragens. O número de casos anuais é de, no máximo, cinco.
ConJur — Como o Viac lida com o dever de revelação?
Niamh Leinwather — No Viac, um árbitro, quando é designado, preenche um formulário de aceitação do ofício. Neste documento, ele aponta detalhes, como o número de casos em que atua como advogado ou árbitro, casos anteriores em que esteve envolvido, pessoas com quem trabalhou em outras atividades ou qualquer outra informação que julgar relevante para as partes. Isso é padrão — acontece em todas as câmaras de arbitragem.
ConJur — Como é o processo de confirmar ou não a designação de um árbitro?
Niamh Leinwather — Se uma parte contestar o árbitro e a outra parte concordar com sua designação, a diretoria do Viac analisa o caso com base em padrões internacionais, como as diretrizes da Associação Internacional de Advogados. Os membros vão decidir se há justificativa razoável para confirmar a nomeação do árbitro. A diretoria é composta por 17 pessoas, dentre advogados, professores universitários e um juiz da Suprema Corte da Áustria.
ConJur — É comum que haja arbitragens envolvendo empresas brasileiras no Viac?
Niamh Leinwather — Nós não temos partes brasileiras no momento. Mas, no ano passado, lançamos uma iniciativa especial na qual designamos 33 embaixadores em 25 países de dois continentes, incluindo o Brasil. A ideia é entender cada mercado e cada jurisdição, os problemas enfrentados e os desejos dos usuários, para saber o que o Viac pode fazer. Nós estamos muito interessados em oferecer um bom processo de arbitragem para partes brasileiras.
ConJur — Quais são as vantagens da arbitragem feita no Viac?
Niamh Leinwather — Uma delas é a autonomia das partes, que podem escolher quem tomará a decisão (em vez de ter um juiz atribuído ao seu caso) e os termos do procedimento — é possível ajustar a disputa conforme a vontade das partes.
ConJur — É bom que não haja duplo grau de jurisdição na arbitragem?
Niamh Leinwather — Depende do ponto de vista — do vencedor ou do perdedor. Geralmente, as partes escolhem a arbitragem porque, desde o início, querem uma decisão rápida e final. Mas, obviamente, uma delas sempre sai infeliz. O perdedor pode acabar mudando de opinião e contestando a decisão.
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